Concelho: Ovar
Freguesia: União das Freguesias de Ovar, São João, Arada e São Vicente de Pereira Jusã
lugares, património, lazer, artesanato, gastronomia, figuras, festas e tradições
Passo das Filhas de Jerusalém, Largo Mouzinho de Albuquerque |
Centro
da cidade de Ovar.
Estão ligadas às cerimónias da Quaresma.
Classificadas como Imóveis de Interesse
Público desde 16 de junho de 1946.
Passo do Horto, Rua Alexandre Herculano |
Terra de arreigadas tradições religiosas, a
cidade de Ovar tem, espalhados pelo seu centro histórico, sete pequenas capelas
de arquitetura simples em estilo rococó, ao longo das quais se percorre a Via
Sacra. Ilustram as diferentes cenas da Paixão de Cristo, em imagens muito
expressivas.
A devoção dos Passos em Ovar data de 1572,
ano em que foi constituída a Irmandade dos Passos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
No século XVII, o Papa Inocêncio X,
concedeu à respetiva confraria, um Breve de Indulgências.
Em 1747 foi concedido à Confraria o real
dos Passos, imposto de pagar um real por cada quartilho de vinho que se bebesse
em Ovar, com a finalidade da construção das capelas.
Passo da Verónica, Praça da República |
As atuais capelas dos Passos foram construídas entre 1748 e 1756, por iniciativa do Padre Manuel de Resende. Vieram substituir os anteriores Passos, simples barracas de madeira, portáteis. O projeto seria fazer uma capela com cada uma das cenas dramáticas do caminho de Cristo no seu martírio mas na verdade só foram construídas sete, e como os Passos da Via Sacra são catorze, sete têm capela e as outras sete estão assinaladas por cruzes no caminho. Eram seus protetores nessa época, os condes da Feira, que lhe ofereceram um riquíssimo Relicário Processional.
A primeira, evocando o Pretório, encontra-se no interior da matriz, na nave esquerda. O seu retábulo (1735) e ilhargas (1750) são da autoria do mestre entalhador portuense José Teixeira Guimarães.
Ao longo da cidade situam-se as restantes
capelas, adossadas a edifícios de habitação.
Os cinco oratórios autónomos apresentam
porta em cantaria lavrada e os seus interiores estão revestidos de talha
dourada rococó e pinturas murais. As figuras foram pintadas pelo mestre
valeguense António José Pinto.
Na Rua Alexandre Herculano, junto ao Tribunal, situa-se a capela do Passo do Horto, também chamada da Queda ou do Senhor Caído por Terra.
Na Rua Alexandre Herculano acha-se a capela do Passo do Encontro.
A capela do Passo do Cirineu localiza-se na Rua Cândido dos Reis, junto ao Largo dos Bombeiros Velhos.
A capela do Passo da Verónica encontra-se na Praça da República.
A capela do Passo das Filhas de Jerusalém depara-se no Largo Mouzinho de Albuquerque (Praça das Galinhas).
Termina na Capela do Calvário, localizada no Largo dos Combatentes da Grande Guerra. É de maiores dimensões e precedida por uma monumental escadaria.
Largo
Serpa Pinto, Ovar.
Estação construída em 1865, dois anos após
a inauguração da Linha Lisboa – Porto.
É constituída por três corpos, sendo o central mais elevado.
Outrora era composto por um complexo oficinal.
Faz indiscutivelmente parte do extraordinário roteiro que representa todo o património arquitetónico ao nível da azulejaria em muitas das antigas estações dos caminho-de-ferro ao longo do país, com particular destaque nas linhas do Norte.
A estação conta com 23 painéis temáticos,
utilizando diversas composições de padrões estampilhados, monocromáticos e
policromos, datados de
Os 14 painéis que decoram a fachada principal são, na sua maioria, de Licínio Pinto.
Na gare, os painéis são cópias feitas em 1980 no Atelier Razamonte, em Vila Nova de Gaia.
Os painéis, de base azul, representam cenas de caráter etnográfico, tais como trajes regionais, atividades tradicionais, monumentos e paisagens de Ovar e arredores.
Praça da República |
Cidade, sede de concelho, situada a 38 km a norte de Aveiro.
Areinho, ria de Aveiro |
Encontra-se no extremo norte da ria de Aveiro, numa zona húmida, plana, sem grandes ondulações e aberta, com clima ameno e estável.
Rio Cáster, no centro da cidade |
O
casario espraia-se a
Praça da República, em 2005 |
O centro histórico é composto por um conjunto invulgar de casas revestidas a azulejos datados dos séculos XIX e XX que fazem a localidade ostentar o título de Cidade Museu do Azulejo. Expressão atribuída à cidade de Ovar pelo museólogo Prof. Rafael Salinas Calado, o primeiro diretor do Museu Nacional do Azulejo. Um autêntico museu ao ar livre, sem portas, bilheteira ou horários.
Casa revestida a azulejos, Praça da República |
Casas multicolores que contrastam com a singeleza das cantarias, que as tornam únicas. Arte portuguesa que em Ovar com as suas caraterísticas próprias, tal como noutras terras, tornou-se muito frequente através dos “brasileiros”, emigrantes que voltavam do Brasil e foram introduzindo a utilização do azulejo como material impermeável para o revestimento dos exteriores contra os ares marítimos. A moda não tardou a pegar e os azulejos rapidamente se transformaram, também, numa forma de distinção social.
Chafariz Neptuno |
Está intimamente ligada ao mar, como testemunha a figura de Neptuno (Deus dos Mares) encimando um belo chafariz no centro da urbe.
Terra de migrantes (dando origem a localidades como São Pedro da Afurada, Espinho ou Vieira de Leiria) e emigrantes. Daqui saíram dos maiores contingentes nacionais para o Brasil, especialmente no século XIX e princípios do século XX.
Mapa romano com a localização de Lavare |
Durante o período romano terá sido designada por Lavare ou Lavara, termo que significa lavar, molhar, regar ou inundar. Dado que este território era constituído por uma grande área de água com entrada mais a sul, em Portus Avare, não será abusivo associar a esta zona terras para regar, molhar ou inundar.
O atual aglomerado de Ovar nasceu da fusão, no decorrer dos séculos, de vários núcleos populacionais, sendo os mais importantes a Vila Cabanones e Vila Ovar, esta última situada mais para o interior da atual povoação. A primeira referência a estas duas povoações data de 920, numa doação do rei Ordonho II de Leão. Nesta época, toda esta região era uma terra de salinas e uma das mais produtivas de sal em todo o ocidente da Europa.
Atual Capela de São Donato, em Guilhovai |
Em 12 de Junho de 922 aparece uma referência ao porto de Obal e a uma igreja chamada de São Donato e São João.
Em 977 é invadida pelo árabe Almansor, na sua incursão até ao Porto. Durante o período muçulmano era denominada por Albhar, à semelhança de Albufeira, no Algarve. O vocábulo significa “lagoa e mar”, situação em que ambas as localidades se encontravam.
Durante os séculos X-XI, grandes barcos de normandos, carregados de varegas, nas suas deslocações para sul da sua terra de origem, a Escandinávia, entravam pelos esteios do mar interior de Ovar e dominavam a região. Envolviam-se em atividades comerciais, pirataria e atuavam como mercenários. Raptavam pessoas locais em troca de bens e grandes quantidades de sal para a salga do peixe. Documentos no mosteiro de Grijó, a que pertenciam estas terras, comprovando estes atos de pirataria.
A 10 de março de 1101 são referidas salinas em São Donato, descriminadas numa venda de vários irmãos a Dom Soeiro Fromarigues e a sua mulher Elvira Nunes.
Atual Igreja Paroquial de São Cristóvão de Ovar |
Em 1132 aparece pela primeira vez a referência à paróquia, dedicada a São Cristóvão.
As inquirições de outubro de 1260, feitas pelo juiz da Feira e pelo pretor de Gaia, comprovam a existência de salinas em Cabanões.
Em 1147, após a conquista de Lisboa aos mouros, estas terras terão sido oferecidas por Dom Afonso Henriques a cruzados húngaros que o tinham ajudado a conquistar a cidade de Lisboa. Os novos senhores terão construído um pequeno castelo (vár, em húngaro) junto ao mar interior de Ovar, como proteção do povoado, do qual não restam quaisquer vestígios.
Em 1251 os concelhos de Cabanões e Ovar já estavam constituídos.
Em 1284 era já vila, julgado e concelho.
Durante os séculos XII e XIII foi muito movimentada, graças à sua extração de sal e atividade pesqueira.
Passo do Horto, integrado num conjunto de capelas protetoradas pelos Condes da Feira |
No século XIV passou a fazer parte das Terras de Santa Maria por doação a Fernão Pereira, pai do primeiro Conde da Feira.
Em 29 de Setembro de 1319, Dom Dinis concedeu aos moradores da urbe a isenção de não pagarem lutuosa (antigo direito recebido pelo senhorio direto por morte do senhor de um prédio). Esta isenção foi renovada em 23 de Agosto de 1386 por Dom João I, em 8 de Agosto de 1450 por Dom Afonso V e em 22 de Junho de 1497 por Dom Manuel I.
Largo Família Soares Pinto |
No século XVI, a paróquia, concelho e julgado medievos foram transferidos de Cabanões para a atual zona urbana, que então se encontrava mais desenvolvida. O primeiro núcleo terá surgido num pequeno morro na proximidade da atual Praça da República.
Mapa século XVI com a localização de Ovar |
Em 10 de Fevereiro de 1514, Dom Manuel I concedeu foral à vila.
Data
de 3 de Outubro de
Barco do Mar, Furadouro |
A partir do século XVIII, registou-se um grande crescimento demográfico da zona, facto a que não foi alheia a introdução de novas técnicas de pesca, como as chamadas Artes Grandes ou da Xávega, de salga e de conservação do pescado.
Cais da Ribeira |
Nos séculos XVIII e XIX transformou-se no povoado mais importante da zona e posteriormente do distrito, devido à saga impar e admirável dos mercantes que levavam o sal, pescado e outros produtos da Bairrada até Barca de Alva. A importância destes foi tão grande que sonharam e pediram a construção de um canal que ligasse a ria de Aveiro ao rio Douro.
Em 1791, a barra do rio Vouga fechou completamente e as águas fluviais não circulavam nem se renovavam, começando a subir e inundando as salinas e os campos agrícolas. Com os campos alagados, as culturas apodreciam, a fauna e a flora eram destruídas, as pessoas adoeciam e o comércio era quase inexistente.
Em
Monumento às Varinas, Furadouro |
A zona ficou quase deserta e quem não morreu, migrou. Todo o litoral português, inclusive Lisboa (as varinas de Lisboa são oriundas de Ovar) ficaram cheios de gentes de Ovar. Deram origem a localidades como São Pedro da Afurada, Espinho ou Vieira de Leiria. Muitos outros emigraram, daqui saíram dos maiores contingentes nacionais para o Brasil.
Estação Ferroviária de Ovar |
Em 1865 chega o comboio.
Torreão da Praça das Galinhas, construção de "Brasileiros" |
No final do século XIX, e apesar de muitos ovarenses terem emigrado, a população registava ainda um crescimento contínuo e a economia prosperava. Em cada mil emigrantes que lá morresse, meia dúzia regressava, e os que regressavam vêm ricos e querem mostrar a sua devoção. Aparecem as casas brasileiras e as modestas casas ainda a lembrar palheiros são revestidas a azulejos.
Nas décadas de 1950 e 1960, o tradicional quadro rural e piscatório sofreu uma intensa transformação com a chegada da industrialização, caraterizada por diversas atividades.
Percurso do Azulejo, com início na Praça da República |
Em 1981 recebeu o título de Cidade-Museu Vivo do Azulejo, atribuído por Rafael Salinas Calado, fundador do Museu Nacional do Azulejo.
Em Junho de 1984 ascendeu à categoria de cidade.
A importante atividade pesqueira e a extração de sal que tiveram início nos séculos XII e XIII, foi alterado nas décadas de 1950 e 1960 com a industrialização. Atualmente, a economia local tem como polos: a agropecuária, a pesca (pouca), a indústria e o comércio.
A terra produz milho, arroz, batata e produtos agrícolas, e alimenta principalmente gado bovino.
Pinhal de Ovar |
Importante também é a exploração florestal, dado haver uma grande densidade de matas.
A pesca, tradicional entre as suas gentes, encontra-se em declínio.
Encontram-se instalados na cidade diversas indústrias: aço, alcatifas, cablagem elétrica, calçado, casas pré-fabricadas, condutores elétricos, confeções, eletrónica, feltros industriais, ferragens, metalomecânicas, montagem de automóveis, motores elétricos, papel, pirotecnia, plásticos, produtos alimentares, rações para animais, sal e têxteis.