A
cidade de Chaves, capital do Alto Tâmega, situa-se no noroeste transmontano, no
extremo norte do país junto à fronteira com Espanha, a cerca de 64 km a norte da sede de
distrito, Vila Real.
Encontra-se a 331 metros de altitude,
na orla de uma veiga fecundíssima e vasta, banhada pelo rio Tâmega, que divide
a cidade em duas freguesias, ficando a Este da ponte a freguesia da Madalena, e
a Oeste a freguesia de Santa Maria Maior.
A cidade é protegida pelo altaneiro
castelo e por uma cerca que rodeia o casario histórico, composto por caraterísticas varandas.
Está abrigada a nordeste pela corda
montanhosa do Brunheiro e a oeste pelos contrafortes da serra do Larouco.
É um dos mais importantes centros termais
da Europa, visitada por milhares de portugueses e estrangeiros.
O concelho de Chaves é composto por
39 freguesias e desenvolve-se ao longo do vale do rio Tâmega, que tem posição
central no território concelhio. É delimitado pelas encostas das terras altas
em seu redor, a nascente e a poente, de relevos graníticos e xistosos que
chegam a atingir os 1000 metros de altitude. Confina a norte com a Comunidade
espanhola da Galiza, a nascente pelos municípios de Vinhais e Valpaços, a sul
por Vila Pouca de Aguiar e a poente por Montalegre e Boticas.
Terra de ocupações remotas, são muitos os
vestígios deixados por civilizações pré-históricas, como por exemplo antas,
necrópoles ou interessantes gravuras rupestres. Admite-se mesmo, a
possibilidade da existência de povoamento no Paleolítico, comprovado pela
existência de um instrumento de pedra encontrado na serra do Brunheiro.
Nasceu como castro no cimo das montanhas,
mais tarde romanizado e instalado no vale do Tâmega, onde atualmente se
encontra a cidade. O imponente núcleo monumental e centro cívico situar-se-ia
no cerro envolvente da área hoje ocupada pela torre de menagem e em todo o
espaço anteriormente ocupado pelo castelo medieval. O seu atual recorte lembra ainda
o traçado de um acampamento romano, com o Fórum,
o Capitólio e a Decumana que seria a rua Direita. Neste perímetro foram encontrados
os mais relevantes vestígios arqueológicos romanos.
Ponte Romana de Trajano |
A civilização Romana foi a mais marcante
para esta região. Edificaram a primeira muralha que envolveu o novo aglomerado
populacional, construíram a imponente ponte de Trajano sobre a via Bracara-Asturica, implantaram balneários
termais tirando proveito das águas quentes mineromedicinais, erigiram uma
barragem e exploraram filões auríferos e outros recursos do solo e subsolo.
No ano 78, o imperador romano Tito Flávio
Vespasiano tornou-a sede de município com a denominação de Aquae Flaviae. A povoação converteu-se numa das principais cidades
romanas da Península Ibérica. O seu nome significa Águas de Flávio, em homenagem ao imperador e à excelência das suas
águas termais. De Flaviae é que
derivou o nome de Chaves e por isso os seus habitantes são denominados
Flavienses.
Para ela convergiam várias vias romanas:
a de Bracara Augusta (Braga), a de Asturica (Astorga), a de Lamecum (Lamego), entre outras menos
importantes. Delas sobram marcas espalhadas ao longo de toda a região. A mais
famosa é a Via Romana de Chaves a Astorga, que ligava as duas importantes
cidades do Noroeste peninsular romano. Esta via atravessava Chaves dirigindo-se
depois pela serra até Vinhais, atravessando alguns riachos nos quais ainda restam
as famosas pontes romanas.
Após a queda do império romano, Chaves
foi invadida pelos povos Bárbaros – Suevos, Visigodos e Alanos -, provenientes
do leste europeu.
Aquando da invasão dos Suevos no século
III, Xavias era sede de um bispado,
conhecendo-se o nome dos bispos Idácio, autor duma crónica dos factos ocorridos
no Império Romano entre 379 e 469, e que é a primeira história do reino dos
Suevos, e de Cuniuldo.
Em 411, Chaves foi quase destruída devido
às guerras entre Frumário e seu irmão Remismundo, que disputavam o direito ao
trono. Terminaram com a vitória do primeiro e a prisão do notável bispo Idácio
de Chaves, em 26 de julho de 460.
Com o desaparecimento dos Suevos, foi
ocupada pelos Godos.
Em 713, os muçulmanos, vindos do Norte de
África, invadiram a região e venceram Rodrigo, o último monarca visigodo. A
invasão dos árabes provocou a fuga dos cristãos para as montanhas e para os
antigos castros. Os novos conquistadores terão reforçado a fortificação.
Em 744, Afonso I de Castela expulsou os árabes
que mais tarde a reconquistaram.
Em 888 foi reconquistada por Afonso III o Magno, rei das Astúrias e Leão, que a
reconstruiu parcialmente.
Em 923 voltou a cair no domínio mouro.
Em 995 o Magno reconquista a povoação aos mouros e terá dado início à
construção de uma cerca.
Em 1080 aparece pela primeira vez a
designação de Chaves.
Em 1093, Afonso VI de Leão e Castela, entregou-a
como dote à princesa Teresa, quando esta casou com o conde Dom Henrique de
Borgonha, passando a integrar os domínios do Condado Portucalense.
Em 1129 voltou a cair em poder dos
Sarracenos.
Em 1160 regressou à coroa portuguesa,
conquistada pelos lendários irmãos Ruy e Garcia Lopes, que a ofereceram a Dom
Afonso Henriques. Por este feito, foram recompensados pelo soberano com os
domínios da povoação e seu castelo. Os corpos dos irmãos encontram-se
sepultados na Igreja de Santa Maria Maior de Chaves.
Em 1220, foi invadida por Dom Afonso IX
de Leão, visando assegurar para a sua esposa, Dona Teresa, infanta de Portugal,
a posse dos castelos que o pai desta, Dom Sancho I lhe legara em testamento, e
que o irmão, Dom Afonso II lhe reivindicava.
Em 1231 foi devolvida a Portugal, em
virtude de negociações tratadas na vila do Sabugal (então leonesa), entre Dom
Sancho II e Fernando III de Leão.
Em 1253 realizou-se em Santo Estêvão de
Chaves, o casamento de Dom Afonso III com sua sobrinha, a infanta Dona Beatriz,
filha ilegítima de Dom Afonso X de Castela, o
Sábio. Nesta data, Chaves estaria quase despovoada e diminuída na sua
importância.
A 15 de maio de 1258, Dom Afonso III
outorga foral à povoação de Santo Estêvão de Chaves, elevando-a à categoria de
vila. Assina também o início das obras de reforço das muralhas de Chaves e a edificação
da torre de menagem.
Castelo de Chaves |
Dom Dinis (1279-1325) deu prosseguimento
às obras do castelo, concluindo a maciça e alta torre de menagem e a
fortificação muralhada.
Em 1350, recebe uma carta régia com as
obrigações tributárias, concedida por Dom Dinis e confirmada por seu filho Dom
Afonso IV. Embora não se trate de um foral, este documento régio é emitido para
pôr fim a uma contenda entre Chaves e Montenegro.
No contexto da crise de 1383-1385,
iniciada com a morte do rei Dom Fernando sem deixar herdeiros masculinos, a
vila tomou partido por Dona Beatriz e Dom João I de Castela.
Em 1386, as forças do Condestável Dom
Nuno Álvares Pereira, a mando de Dom João I, Mestre de Avis, montou em redor de
Chaves um cerco que durou quatro meses (entre janeiro e abril), até à rendição
do seu alcaide-mor, Martim Gonçalves de Ataíde. Em recompensa, o monarca doou
estes domínios ao Condestável.
Dom Afonso |
Em 1401, Dom Nuno incluiu a doação do
senhorio de Chaves no dote da sua filha Dona Beatriz quando ela se casou com o
conde de Barcelos, Dom Afonso, filho bastardo daquele rei e que foi o primeiro
duque de Bragança. Passou assim a ser um senhorio da casa ducal, cuja família
ali residiu por longas temporadas a ali faleceu em 1461 contando 90 anos de
idade. Por isso, o castelo de Chaves é denominado por alguns escritores como o Castelo do Duque de Bragança.
Em 1483 recebeu a visita de Dom João II
que ali permaneceu três dias. O principal motivo da visita prendia-se com a
intenção de avaliar o sentimento das populações face ao processo que
desenrolava contra Dom Fernando, III Duque de Bragança e Senhor de Chaves, que
culminou com a sua execução, por ordem do monarca.
Em 1487, Dom João II confirma a sua Feira
Franca anual.
A 7 de dezembro de 1514, Dom Manuel I
outorga foral novo à cidade. É na verdade o único foral comprovado.
Em agosto de 1580 é surpreendida pelo
ataque espanhol ordenado pelo conde de Monterey e liderado pelo seu irmão Dom
Baltazar de Zuñiga. O ataque pretendeu obrigar a vila de Chaves a reconhecer
Felipe II de Espanha. Foram feitas prisões e substituíram-se titulares de
cargos.
Só em maio de 1581, por ordem de Felipe
II, e já como Filipe I de Portugal, é que será reposta a normalidade,
restituindo-se Chaves e outros Senhorios da Casa de Bragança à sua legítima
posse e ao respeito dos privilégios e direitos que eram já usufruto daquela
casa senhorial.
Forte de São Francisco |
Durante as Guerras da Restauração
(1640-1668), a vila foi beneficiada por várias linhas de muralhas, tendo-lhe
sido modernizadas as defesas, adaptadas aos então modernos tiros de artilharia.
Foram construídos o revelim da Madalena e os fortes de São Francisco e São
Neutel.
Em maio de 1762 cai nas mãos do exército espanhol
que ali permanecerá até ao fim desse ano. Obras por concluir, falta de
reparações e de manutenção, assim como a pouca preparação das tropas e de
armamento, estão na origem do desaire.
Na invasão francesa comandada pelo
General Soult, em 1808, Chaves foi a primeira cidade atacada. Depois de algumas
lutas, finalmente as tropas francesas conseguiram o objetivo e Chaves foi
tomada em 11 de Março. Seguindo em direção ao Porto, Soult deixou apenas uma
guarnição em Chaves. Doze dias depois, tropas portuguesas lideradas pelo
Brigadeiro Silveira retomaram a praça e os soldados franceses foram feitos
prisioneiros, incluindo o governador francês da Praça. Chaves assume desta
forma um importante papel na luta contra os franceses.
No período conturbado das lutas liberais,
a população flaviense colocou-se maioritariamente ao lado da fação miguelista.
Em 1823, a batalha de Santa Bárbara, às
portas da cidade, dá a vitória aos absolutistas que detinham aquela praça de
guerra com o apoio da população civil e das guarnições ali estacionadas.
A 20 de setembro de 1837 é celebrada a Convenção de Chaves, após o combate de
Ruivães, pondo termo à revolta cartista, conhecida pela revolta dos marechais.
Em 1853 foi criado o atual concelho.
A partir de 1880, várias instalações
militares começam a ser utilizadas para fins civis. Outras estruturas serão
demolidas ou amputadas e o crescimento da vila acabará por absorver e ocultar
grande parte das cortinas e baluartes da maior praça de guerra transmontana.
A 8 de julho de 1912, Chaves foi palco de
violentos combates numa tentativa de restauração da monarquia, entre as forças
realistas de Paiva Couceiro e as do governo republicano chefiadas pelo coronel
Ribeiro de Carvalho, de que resultou o fim da primeira incursão monárquica.
Em 1919, Chaves foi distinguida com a
Ordem Militar da Torre e Espada.
A 12 de março de 1929 foi elevada à
categoria de cidade, pelo então Presidente da República Marechal Carmona.
Em 2013, algumas das suas
freguesias foram anexadas passando de 51 para 39 sedes.
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