segunda-feira, 30 de julho de 2018

Chaves

Portugal \ Vila Real \ Chaves

A cidade de Chaves, capital do Alto Tâmega, situa-se no noroeste transmontano, no extremo norte do país junto à fronteira com Espanha, a cerca de 64 km a norte da sede de distrito, Vila Real.
Encontra-se a 331 metros de altitude, na orla de uma veiga fecundíssima e vasta, banhada pelo rio Tâmega, que divide a cidade em duas freguesias, ficando a Este da ponte a freguesia da Madalena, e a Oeste a freguesia de Santa Maria Maior.
A cidade é protegida pelo altaneiro castelo e por uma cerca que rodeia o casario histórico, composto por caraterísticas varandas.
Está abrigada a nordeste pela corda montanhosa do Brunheiro e a oeste pelos contrafortes da serra do Larouco.
É um dos mais importantes centros termais da Europa, visitada por milhares de portugueses e estrangeiros.
O concelho de Chaves é composto por 39 freguesias e desenvolve-se ao longo do vale do rio Tâmega, que tem posição central no território concelhio. É delimitado pelas encostas das terras altas em seu redor, a nascente e a poente, de relevos graníticos e xistosos que chegam a atingir os 1000 metros de altitude. Confina a norte com a Comunidade espanhola da Galiza, a nascente pelos municípios de Vinhais e Valpaços, a sul por Vila Pouca de Aguiar e a poente por Montalegre e Boticas.

Terra de ocupações remotas, são muitos os vestígios deixados por civilizações pré-históricas, como por exemplo antas, necrópoles ou interessantes gravuras rupestres. Admite-se mesmo, a possibilidade da existência de povoamento no Paleolítico, comprovado pela existência de um instrumento de pedra encontrado na serra do Brunheiro.
Nasceu como castro no cimo das montanhas, mais tarde romanizado e instalado no vale do Tâmega, onde atualmente se encontra a cidade. O imponente núcleo monumental e centro cívico situar-se-ia no cerro envolvente da área hoje ocupada pela torre de menagem e em todo o espaço anteriormente ocupado pelo castelo medieval. O seu atual recorte lembra ainda o traçado de um acampamento romano, com o Fórum, o Capitólio e a Decumana que seria a rua Direita. Neste perímetro foram encontrados os mais relevantes vestígios arqueológicos romanos.
Ponte Romana de Trajano
A civilização Romana foi a mais marcante para esta região. Edificaram a primeira muralha que envolveu o novo aglomerado populacional, construíram a imponente ponte de Trajano sobre a via Bracara-Asturica, implantaram balneários termais tirando proveito das águas quentes mineromedicinais, erigiram uma barragem e exploraram filões auríferos e outros recursos do solo e subsolo.
No ano 78, o imperador romano Tito Flávio Vespasiano tornou-a sede de município com a denominação de Aquae Flaviae. A povoação converteu-se numa das principais cidades romanas da Península Ibérica. O seu nome significa Águas de Flávio, em homenagem ao imperador e à excelência das suas águas termais. De Flaviae é que derivou o nome de Chaves e por isso os seus habitantes são denominados Flavienses.
Para ela convergiam várias vias romanas: a de Bracara Augusta (Braga), a de Asturica (Astorga), a de Lamecum (Lamego), entre outras menos importantes. Delas sobram marcas espalhadas ao longo de toda a região. A mais famosa é a Via Romana de Chaves a Astorga, que ligava as duas importantes cidades do Noroeste peninsular romano. Esta via atravessava Chaves dirigindo-se depois pela serra até Vinhais, atravessando alguns riachos nos quais ainda restam as famosas pontes romanas.
Após a queda do império romano, Chaves foi invadida pelos povos Bárbaros – Suevos, Visigodos e Alanos -, provenientes do leste europeu.
Aquando da invasão dos Suevos no século III, Xavias era sede de um bispado, conhecendo-se o nome dos bispos Idácio, autor duma crónica dos factos ocorridos no Império Romano entre 379 e 469, e que é a primeira história do reino dos Suevos, e de Cuniuldo.
Em 411, Chaves foi quase destruída devido às guerras entre Frumário e seu irmão Remismundo, que disputavam o direito ao trono. Terminaram com a vitória do primeiro e a prisão do notável bispo Idácio de Chaves, em 26 de julho de 460.
Com o desaparecimento dos Suevos, foi ocupada pelos Godos.
Em 713, os muçulmanos, vindos do Norte de África, invadiram a região e venceram Rodrigo, o último monarca visigodo. A invasão dos árabes provocou a fuga dos cristãos para as montanhas e para os antigos castros. Os novos conquistadores terão reforçado a fortificação.
Em 744, Afonso I de Castela expulsou os árabes que mais tarde a reconquistaram.
Em 888 foi reconquistada por Afonso III o Magno, rei das Astúrias e Leão, que a reconstruiu parcialmente.
Em 923 voltou a cair no domínio mouro.
Em 995 o Magno reconquista a povoação aos mouros e terá dado início à construção de uma cerca.
Em 1080 aparece pela primeira vez a designação de Chaves.
Em 1093, Afonso VI de Leão e Castela, entregou-a como dote à princesa Teresa, quando esta casou com o conde Dom Henrique de Borgonha, passando a integrar os domínios do Condado Portucalense.
Em 1129 voltou a cair em poder dos Sarracenos.
Em 1160 regressou à coroa portuguesa, conquistada pelos lendários irmãos Ruy e Garcia Lopes, que a ofereceram a Dom Afonso Henriques. Por este feito, foram recompensados pelo soberano com os domínios da povoação e seu castelo. Os corpos dos irmãos encontram-se sepultados na Igreja de Santa Maria Maior de Chaves.
Em 1220, foi invadida por Dom Afonso IX de Leão, visando assegurar para a sua esposa, Dona Teresa, infanta de Portugal, a posse dos castelos que o pai desta, Dom Sancho I lhe legara em testamento, e que o irmão, Dom Afonso II lhe reivindicava.
Em 1231 foi devolvida a Portugal, em virtude de negociações tratadas na vila do Sabugal (então leonesa), entre Dom Sancho II e Fernando III de Leão.
Em 1253 realizou-se em Santo Estêvão de Chaves, o casamento de Dom Afonso III com sua sobrinha, a infanta Dona Beatriz, filha ilegítima de Dom Afonso X de Castela, o Sábio. Nesta data, Chaves estaria quase despovoada e diminuída na sua importância.
A 15 de maio de 1258, Dom Afonso III outorga foral à povoação de Santo Estêvão de Chaves, elevando-a à categoria de vila. Assina também o início das obras de reforço das muralhas de Chaves e a edificação da torre de menagem.
Castelo de Chaves
Dom Dinis (1279-1325) deu prosseguimento às obras do castelo, concluindo a maciça e alta torre de menagem e a fortificação muralhada.
Em 1350, recebe uma carta régia com as obrigações tributárias, concedida por Dom Dinis e confirmada por seu filho Dom Afonso IV. Embora não se trate de um foral, este documento régio é emitido para pôr fim a uma contenda entre Chaves e Montenegro.
No contexto da crise de 1383-1385, iniciada com a morte do rei Dom Fernando sem deixar herdeiros masculinos, a vila tomou partido por Dona Beatriz e Dom João I de Castela.
Em 1386, as forças do Condestável Dom Nuno Álvares Pereira, a mando de Dom João I, Mestre de Avis, montou em redor de Chaves um cerco que durou quatro meses (entre janeiro e abril), até à rendição do seu alcaide-mor, Martim Gonçalves de Ataíde. Em recompensa, o monarca doou estes domínios ao Condestável.
Dom Afonso
Em 1401, Dom Nuno incluiu a doação do senhorio de Chaves no dote da sua filha Dona Beatriz quando ela se casou com o conde de Barcelos, Dom Afonso, filho bastardo daquele rei e que foi o primeiro duque de Bragança. Passou assim a ser um senhorio da casa ducal, cuja família ali residiu por longas temporadas a ali faleceu em 1461 contando 90 anos de idade. Por isso, o castelo de Chaves é denominado por alguns escritores como o Castelo do Duque de Bragança.
Em 1483 recebeu a visita de Dom João II que ali permaneceu três dias. O principal motivo da visita prendia-se com a intenção de avaliar o sentimento das populações face ao processo que desenrolava contra Dom Fernando, III Duque de Bragança e Senhor de Chaves, que culminou com a sua execução, por ordem do monarca.
Em 1487, Dom João II confirma a sua Feira Franca anual.
A 7 de dezembro de 1514, Dom Manuel I outorga foral novo à cidade. É na verdade o único foral comprovado.
Em agosto de 1580 é surpreendida pelo ataque espanhol ordenado pelo conde de Monterey e liderado pelo seu irmão Dom Baltazar de Zuñiga. O ataque pretendeu obrigar a vila de Chaves a reconhecer Felipe II de Espanha. Foram feitas prisões e substituíram-se titulares de cargos.
Só em maio de 1581, por ordem de Felipe II, e já como Filipe I de Portugal, é que será reposta a normalidade, restituindo-se Chaves e outros Senhorios da Casa de Bragança à sua legítima posse e ao respeito dos privilégios e direitos que eram já usufruto daquela casa senhorial.
Forte de São Francisco
Durante as Guerras da Restauração (1640-1668), a vila foi beneficiada por várias linhas de muralhas, tendo-lhe sido modernizadas as defesas, adaptadas aos então modernos tiros de artilharia. Foram construídos o revelim da Madalena e os fortes de São Francisco e São Neutel.
Em maio de 1762 cai nas mãos do exército espanhol que ali permanecerá até ao fim desse ano. Obras por concluir, falta de reparações e de manutenção, assim como a pouca preparação das tropas e de armamento, estão na origem do desaire.
Na invasão francesa comandada pelo General Soult, em 1808, Chaves foi a primeira cidade atacada. Depois de algumas lutas, finalmente as tropas francesas conseguiram o objetivo e Chaves foi tomada em 11 de Março. Seguindo em direção ao Porto, Soult deixou apenas uma guarnição em Chaves. Doze dias depois, tropas portuguesas lideradas pelo Brigadeiro Silveira retomaram a praça e os soldados franceses foram feitos prisioneiros, incluindo o governador francês da Praça. Chaves assume desta forma um importante papel na luta contra os franceses.
No período conturbado das lutas liberais, a população flaviense colocou-se maioritariamente ao lado da fação miguelista.
Em 1823, a batalha de Santa Bárbara, às portas da cidade, dá a vitória aos absolutistas que detinham aquela praça de guerra com o apoio da população civil e das guarnições ali estacionadas.
A 20 de setembro de 1837 é celebrada a Convenção de Chaves, após o combate de Ruivães, pondo termo à revolta cartista, conhecida pela revolta dos marechais.
Em 1853 foi criado o atual concelho.
A partir de 1880, várias instalações militares começam a ser utilizadas para fins civis. Outras estruturas serão demolidas ou amputadas e o crescimento da vila acabará por absorver e ocultar grande parte das cortinas e baluartes da maior praça de guerra transmontana.
A 8 de julho de 1912, Chaves foi palco de violentos combates numa tentativa de restauração da monarquia, entre as forças realistas de Paiva Couceiro e as do governo republicano chefiadas pelo coronel Ribeiro de Carvalho, de que resultou o fim da primeira incursão monárquica.
Em 1919, Chaves foi distinguida com a Ordem Militar da Torre e Espada.
A 12 de março de 1929 foi elevada à categoria de cidade, pelo então Presidente da República Marechal Carmona.
Em 2013, algumas das suas freguesias foram anexadas passando de 51 para 39 sedes.

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